Pacha Ana acaba de lançar Suor e Melanina. No novo projeto, ela traz um tema já muito abordado no rap nacional, o amor, porém com uma perspectiva centrada no amor e afeto da comunidade negra, lgbtqi+ e periférica. Quando questionada sobre o público que pretende atingir, Ana diz que “(…)se a gente for falar sobre pessoas que eu queria atingir com o disco, a primeira pessoa que eu queria atingir era eu”.
Com a ideia de que amor também é uma forma de luta, Pacha acredita que é um tema de suma importância para a discussão racial e para criação de identidade e comunidade para o povo preto. “Suor e Melanina é sobre dar continuidade sobre o que a gente já fazia, que eu acho que a gente perdeu no meio do caminho. Quando falo isso, também falo pra mim, não me tiro dessa, eu me coloco nessa também da perda. Falo pra mim, pros meus, pros nossos, para aqueles que ainda não sabem que são dos nossos, e pra quem se permite ouvir, é sobre afeto, resgate, ancestralidade e amor também”.
A criação do projeto, que teve início em 2019, veio da inspiração da artista para se renovar, sair da zona combatente da militância, de denúncia e afrontamento, e partir para novas formas de discutir sobre a comunidade negra e suas subjetividades. Ana relata que sua ideia a primeiro momento foi discutida com Eazy CDA, diretor de voz e responsável pela gravação do disco.
“Quando eu comecei a escrever o disco inteiro, pensar no disco inteiro, eu estava em BH, na casa do Eazy passando uns dias lá e eu falei ‘Eazy, queria escrever um disco todo de love song’, e aí ficamos naquela de será, não será?! Eu entendi que dava muito certo, que eu tinha muito feeling pra isso, acho que é isso, que além de falar de luta, além de preto militar, eu também posso falar de amor, também posso falar de afeto. Foi daí que saiu a ideia de “Suor e Melanina”.
Quando questionado sobre o processo de criação do ep, Eazy fala sobre a imersão e identificação que teve com o projeto: “Muito intenso, essa é a palavra. Automaticamente, quando você escuta as músicas, você se sente pertencendo ao momento”, relata o produtor.
Sobre o nome do disco, a artista destaca a dualidade, do suor e melanina que se misturam em relações afetivas afro centradas, e do suor dela, mulher preta, ao apresentar mais um trabalho ao público.
Já na produção da identidade visual, Ahgave e Maria Reis, em parceria com Pacha Ana, foram os responsáveis por toda criação, incluindo a capa do disco e produção de figurinos e stylist da cantora. O conceito visual do EP foi ligado diretamente a intenção da artista, de reformulação e reconhecimento para a comunidade negra, onde a diáspora é uma realidade em que o povo preto necessita acolher sua história, seu afeto e sua origem. Com tons terrosos e elementos nudes, que remetem às estações do ano, ligadas principalmente ao inverno e outono. O figurino da artista remete a troca de pele, como um processo de se fazer novo. Ahgave diz que “(…) assim como as folhas caem no inverno,assim como as raízes secam, entramos na subjetividade do inverno, das estações, pq morte também é renascimento, e dentro desse conceito de renascimento, também buscar a ancestralidade através do sankofa: ‘volte, retorne e pegue”.
O disco teve sua produção assinada pelo beatmaker e produtor Vibox, de São Paulo, com referências no R&B nacional e internacional, com mixagem de Eazy CDA e masterização do produtor DJ Spider, do Studio ProBeats, ambos de Belo Horizonte.
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