Vereadores não cantam hino considerado racista na Câmara de Porto Alegre

Vereadores não cantam hino considerado racista na Câmara de Porto Alegre
Reprodução

No último dia 1 de janeiro, cinco parlamentares do PSOL, PT e PCdoB protestaram contra o hino do Rio Grande do Sul durante a cerimônia de posse da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. A bancada negra se recusou a cantar a canção devido a um trecho considerado racista que diz “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.

Matheus Gomes (PSOL) disse que não tem obrigação de cantar o verso: “O hino foi elaborado em um contexto de guerra, no qual a única forma de escravização era sobre a população negra, que lutou na guerra sob promessa de liberdade, que não tiveram” – disse ao UOL, acrescentando que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul deixou de tocar o hino por esse trecho em 2018.

O professor do departamento de história da UFRGS, César Guazzeli, diz que o hino é “carregado de racismo”:

“Nós tivemos sociedade escravista aqui no Rio Grande do Sul e, como o resto da sociedade brasileira, vivia e se fundamentava da escravidão. Há uma lenda de que o Rio Grande do Sul se constituiu em trabalho livre, mas isso não é verdade. Em 1800, foi a terceira província em importação de escravos, só perdendo para a Bahia e o Rio de Janeiro” – disse Guazzelli, acrescentando que a morte de mais de 600 negros teria sido planejada como forma de evitar fugas para o Uruguai ou Argentina, que tinham acabado com a escravatura em 1842 e 1813, respectivamente.

Já a vereadora Comandante Nádia (DEM) disse aos colegas contrários ao hino que deveriam “sair da sala”.

“Atitudes dessa forma desrespeitosas, de indisciplina, não estão [permitidas] aqui dentro dessa Câmara Municipal de Vereadores. Nós temos, sim, que fazer a correção dos atos para que isso não aconteça dentro da Câmara que legisla Porto Alegre.” – disse Nádia.

O Movimento Tradicionalista Gaúcho disse que o trecho não é racista, argumentando que a frase “diz respeito a uma submissão da então Província de São Pedro ao Império, no período da Revolução Farroupilha” e, para o movimento, ao se prender a esse tipo de polêmica, a comunidade negra “perde um precioso tempo de ser protagonista de uma nova história que cabe aos próprios negros e brancos escreverem”.

Sobre Victor Miller 75 Artigos
Jornalista formado pela PUC do Rio de Janeiro

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.